De alguém, e para alguém.

“Amor é curto, esquecer é longo” Acho que li isso num dos livros de poemas do Pablo Neruda, ótimo escritor, aliás.

A gente sempre se apaixona fácil, não é? Um sorriso, um gesto, um gosto em comum…. Algumas pessoas não têm essa facilidade (ou mentem que não têm), outras têm e à primeira vista; é até lindo de se ver! Aquela euforia que te consome, o querer estar sempre com o amado, dizer “eu te amo” sem saber o que é amar, e não dizer nada sabendo o que é.

O amor é uma porta que te leva ao céu, para o paraíso, pr’um lugar que só existe felicidade; mas não a felicidade estável, e sim a felicidade mundana, de ter alguém para chorar no ombro, de acordar numa manhã cinzenta e se arrepender da briga que tiveram na noite passada, ser seca por ele ter ignorado aquela mensagem quando ele liga no outro dia para saber se você está bem… e você acabando ficando bem. Mas quando essa porta se fecha, some, desaparece, encontramos um arriscado labirinto.

Um labirinto de memórias feito para nos testar, alguns saem deste triunfalmente, outros… tsc, tsc… demora, e dói. Mas, assim que saímos desse labirinto, tudo se torna claro! vivo! Estamos prontos para viver tudo novamente. Até parece um círculo vicioso!

E o que seria dos poetas sem o sofrimento do amor não correspondido? O que seria de mim? De você? Sem nenhuma daquelas frases reconfortantes que lemos sobre o amor nessas redes sociais, páginas de livros, revistas, etc.? O amor nos faz vivos, e como é bom amar! mas não só o amor de casal, também tem o amor de família, o amor pela coxinha da lanchonete da esquina, o amor pelo escritor, o amor pelas coisas que do olhar desconhecido, parecem fúteis, mas não é.

Amar é sofrer. Viver é amar e sofrer.

Ando pelos piores becos e provo dos piores venenos da vida na tentativa sórdida da autodestruição; para que ao menos o perigo e o sufoco da morte me faça sentir algo vivo, para que a dor de meu corpo possa despertar algum sentimento até então enterrado pelas mágoas. Profundas mágoas de meu coração.

Notas de uma madrugada infindável.

De Rose, e sobre Rose.

“O amor, uma vez, bateu em minha porta. Veio através de uma querida amiga companheira, que me apresentou um primo dela, a fim de bancar o cupido.
Solteirão, de 40 e casa própria. Só não tinha carro, mas na minha situação aquilo nem faria diferença. A casa dele era muito bem organizada, até cheguei a pensar que ele era meio gay (mas que pensamento preconceituoso, não?) pela maneira metódica que ele arrumava os sapatos, meias, etc.
Sai com o cara duas, ou três vezes, e sem mais delongas fui para cama com ele; e pela primeira vez, eu fiz amor.
Naquele momento eu sabia que poderia me apaixonar, e decidi me preservar para não brigar com o cupido.
Conhecido como “Alemão”, eu só ouvia elogios do Edmilson. Ele era bacana, e tinha dois filhos que nunca deixava de se preocupar, e sempre fazia almoço no apê dele para reunir a família (que no caso, era as irmãs da prima dele – que não era prima, na verdade, o marido dela era primo dele [que confusão!]). Mesmo se eu ficasse horas o aderindo os mais formosos adjetivos não iria descrever o quão bom coração ele era. E ele foi.
Depois de um ano juntos eu já considerava namoro, nem precisava de objeto para firmar nosso compromisso.

Encorajado por mim, ele comprou um carro, um Uno 95 vermelho. Era o xodó dele, andávamos para todo lugar e aí, ficou tudo fácil.

O alemão sempre falou que iria morrer sozinho, e que não iria ser novidade encontrar ele morto num dia desses, já que ninguém se preocupava em ligar para saber como ele estava.
Ele sempre bebia demais quando começava a falar dessas coisas, e foi nessas que descobriu que tinha pressão alta.

Era domingo, às quatorze horas e poucos minutos, eu liguei para saber como ele estava.

– Estou vendo o Mengão – disse ele.

Combinamos de nos ver na segunda pra tomar um chopp, comer umas batatas e depois desliguei.

Eu via meu futuro com ele, só ele. Já passara minha fase de ex-esposa abandonada e carrancuda, agora eu estava finalmente começando a amar de novo, e de verdade! O amor já não era aquele sentimento que eu tanto temia e julgava ser devastador… Eu estava amando.

Segunda-feira, 17 de novembro, 10:00 a.m.
Encontraram o Alemão morto em seu apartamento; a TV estava ligada, agora sintonizada em um programa qualquer.
Acharam ele sentado no sofá, com o short ensanguentado e um misto de sangue e vomito no chão. Infarto fulminante.

Ele teria tomado remédio para a pressão alta na sexta, ele foi avisado que não poderia tomar bebida alcoólica, mas teimoso como era, tomou suas pingas no sábado, e no domingo bebeu duas cervejas.

Os caras que trabalhavam com ele perceberam a falta do amigo e ligaram para o celular, para casa e ninguém atendeu. Tiveram de ir lá, ele não era de falta sem avisar, então presumiram que algo tivesse acontecido.
Um sentimento agoniante bateu no peito do patrão e amigo de longa(!) data quando ninguém atendia o interfone. Pegaram a escada portátil do prédio que estava na garagem e subiram para a sacada do pequeno prédio de cinco andares a fim de alcançarem a janela, sendo a dele a do segundo andar.

O corpo roxo, com o tronco caído entre as pernas gélidas estava sozinho, como ele me dissera antes.”

PS: Esse texto foi escrito dois anos após a morte de meu tio, Alemão. Tentei ao máximo passar pro papel alguns relatos que ouvi antes, durante e depois do acontecimento como um presente. Os sentimentos pode não ter sido os aqui descritos, mas quem sabe se não foi assim? Perdemos o contato com a namorada dele logo depois.

poema p’ra flor.

oh, jovem rosto angelical
queria que tua beleza me saudasse todos os dias
os alecres dias de minha vida
vida essa que vivi de jeito justo

espero poder abraçar tua alma leve
que por tanto tempo foi levada
pelos ventos…,
que felizardo!

tua graça foi de extrema importância
para essa pobre anatomia definhada
obrigada pelas promessas cumpridas
e as mudas de alecrim

por fim, quero lhe abençoar
estou a fazer o caminho da graça eterna
não ficarei para cuidar de você
e nem do jardim

mas lembre-se!
estarei eternizado nessa linda poesia
que escrevo para minha dama
a dama-da-noite.

E é assim que a vida vai…
…………………….passando pelos frutos do amor
………….pelo ar do sofrimento
…………………………………..pela beleza da alegria
……..e o canto deslumbrante da curiosidade.

Encontro.

Segunda feira.

Manhã quente; não tanto quanto meu coração.

Te esperei na décima esquina da rua Cintra, como havíamos combinado.

Dez minutos. Quinze. Vinte.

Um hora.

Te esperei como uma criança que espera o pai para brincar logo depois de um longo dia de trabalho. Descaso.

Terça feira.

Na décima.

Quarta. Quinta. Sexta.

No sábado percebi que você não iria vir.

Parei de procurar.

Voltei pra casa abandonado. Só.

Nunca mais volto naquela maldita esquina pra te procurar, amor.

Dor.

Há tanta beleza na tristeza. De tanto tê-la, assim, entre o meio tom que a vida me propõe, acostumei em leva-la comigo por onde ando. A raiva e as mágoas costumavam tirar minhas noites de sono; vivia definhado, chato e mal humorado. Me questiono até hoje o porquê desse sentimento corrosivo me atingir tão bruscamente. Mas eu aprendi. Aprendi a conviver com minhas dores. Bebi e me afoguei.

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Os pássaros pairavam sobre as altas montanhas do leste.

As vacas mugiam, e os porcos brigavam por um escasso canto de lama, as galinhas ciscavam e ciscavam freneticamente em busca de seu alimento, e os cavalos, ó, as mais belas criaturas daquela graciosa fazenda, passeavam pelas baias, bonançosos e despreocupados.

O frescor do vento passava pelo meu rosto amenizando o intenso calor.

Eu cantarolava minha música favorita, sentia um brio imenso.

Senti o aroma de comida fresca, de fazenda mesmo, acatei o pedido de minha avó para o almoço.

Em seus últimos dias de vida, ainda contava as mais ilustres histórias de seus filhos, contava também o orgulho de seus netos e como gostaria de contar as mesmas histórias para seus bisnetos.

A cidade é extremamente atraente, mas nada se compara á calmaria e serenidade do campo.

“Triste é o sujeito que trabalha doze horas por dia, e não tem o leito e aconchego de uma avó”

Ela estava certa.

Sempre estará.

Aqui jaz.

Sempre quis saber o que aquele senhor observava tanto pela janela. Todos os dias que voltava do colégio, lá estava ele; era o décimo terceiro andar, eu não enxergava, ninguém enxergava, mas todos sentiam um olhar melancólico. Por um momento até estranhava, olhava de volta com cara feia mesmo, ele nem sequer se movia. Foi assim por um bom tempo. Assim, do nada, veio a notícia no bairro. O moço da janela era o Senhor Joaquim, ele havia se suicidado, pelos menos era o que dizia as pessoas. Mas p’ra mim, ele morreu de tristeza, uma profunda mágoa que logo mais tarde soube o motivo. Sua esposa havia falecido. Nos domingos, Dona Soninha (assim a chamava) ficava ali, na mesma janela, observando o dia; ela adorava pássaros, e adorava assoviar p’ra eles.

De uma certa forma, a janela o fazia lembrar de sua Soninha; aquelas minúsculas janelas, que mesmo empoeiradas, o fazia lembrar dos cantos e prosas que ela improvisava p’ra suas aves.

Eu ainda o sinto quando passo ali. Tenho certeza de que ele nunca irá embora, ela também não.